segunda-feira, 14 de junho de 2010

Come solitude


Estou certa, disse com frieza (sempre com frieza) à Lya Luft, de que o que eu precisava era mesmo dos silêncios.
De repente, percebi que troquei o preto pelo branco, e que são ambos igualmente terríveis, porque são ausências. Que eu estou me tornando, lentamente, uma vasta ausência, também. E que quero, mais do que nunca, estar ausente.

E na manhã fria e triste de junho, quis, desesperadoramente, chorar. Quis, a título de último desejo, um ombro compreensivo. E sozinha, mergulhada nas dores do vento outonal, percebi que não podia querer ninguém. Eu precisava de mim mesma. Daquele resquício de mim. Do que restou dos fragmentos, dos meus dessorrisos, das lágrimas que eu engoli, tão amargas que me fizeram amarga por completo.

Eu quero o meu silêncio. Quero meu silêncio de eras.
Quero a simplicidade das minhas malas feitas, de nem precisar dizer adeus.

Come destiny.
Come solitude.
Lacrimas Profundere

(imagem: Petersburgskoye schosse, estrada S. Petesburgo - Pushkin.)
obsessões com a Rússia são marcantes em meus posts, especialmente quando quero solidão

sexta-feira, 11 de junho de 2010

abandono

substantivo masculino

1. ato ou efeito de deixar, de largar, de sair sem a intenção de voltar; partida, afastamento
2. falto de amparo ou assistência; dessarrimo
3. ato ou efeito de renunciar, de desistir
4. estado ou condição do que é ou se encontra abandonado; desleixo, negligência

Já há algum tempo que essa condição me persegue. Até hoje só quis abandonar. De repente, fui eu quem me surpreendi abandonada.
São Paulo, São Paulo: minha solidão não é santa como tu, cidade maldita. Atropelas meu coração na esquina da Dona Antonia com a Consolação (que nem a si mesma serve de consolo entre tantos faróis) e percebo como sou abandonada, como também me abandonei.
E agora lateja dentro de mim a necessidade absurda de partir, de abandonar tudo uma vez mais.

(Sobre a ponte Tul'skaya o pranto seco da moça;
o céu é cinza, a alma é cinza, e ela bate as cinzas do cigarro por sobre o monocromático da vida nas capitais)

terça-feira, 8 de junho de 2010